Falta de controlo sobre as argamassas de estaleiro gera riscos económicos e ambientais, mas também de qualidade das obras
Actualmente, cerca de 2/3 das argamassas produzidas em Portugal são argamassas de estaleiro. A falta de controlo sobre as matérias-primas utilizadas ou sobre a sua qualidade, gera riscos que é preciso controlar. A Associação Portuguesa dos Fabricantes de Argamassas e ETICS, APFAC, alerta para a necessidade de regulamentação e de criação de um contexto mais assertivo para os utilizadores, construtores, aplicadores e entidades fiscalizadoras, como justifica ao CONSTRUIR, Mário Jordão, director executivo da APFAC
Manuela Sousa Guerreiro
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Assumindo como desafio as boas práticas do ponto de vista da sustentabilidade e controlo sobre o processo de produção de argamassas de estaleiro, a Associação Portuguesa dos Fabricantes de Argamassas e ETICS, APFAC colaborou com o LNEC na criação de um guia para a utilização de argamassas para rebocos exteriores de paredes de alvenaria. Com este documento “pretende-se a garantia de condições de concorrência equitativas e a criação de regulamentação própria para o fabrico de argamassas de Estaleiro, defendendo um maior controlo sobre o processo de produção, de forma a respeitar o ambiente, a qualidade e o bom desempenho da argamassa”. Segundo o director executivo da APFAC, Mário Jordão, é preciso ainda criar regulamentação mais assertiva
Recentemente vieram a público defender a criação de regulamentação para a produção de argamassas de estaleiro. Qual a importância que este tema assume?
As boas praticas são fundamentais para o sector da construção. A publicação de Guias de aplicação são um contributo fundamental, mas consideramos que não chega. Se existir regulamentação, cria-se um contexto mais assertivo para os utilizadores, construtores, aplicadores e entidades fiscalizadoras. Com a imposição, há um caminho inicial obrigatório e cremos que, progressivamente, os agentes compreenderão as vantagens das regras. O carácter de obrigatoriedade desvanece-se gradualmente face à racionalidade do guia e das boas práticas. Prevalecerá, no fim, a razoabilidade das normas ou dos guias.
Qual a realidade actual? E as suas implicações?
A APFAC entende que as argamassas de estaleiro são produzidas em ambientes não controlados, ao contrário das argamassas fabris, onde existe controlo das matérias-primas, do processo de fabrico e da qualidade do produto acabado.
Nas argamassas de estaleiro, a falta de controlo das matérias-primas, seja da sua qualidade seja da sua proveniência, algumas vezes extraídas em locais não licenciados provocando danos ambientais, é outro motivo de preocupação. A situação é tanto mais crítica por o peso das argamassas de estaleiro face às argamassas fabris ser muito grande. As primeiras representam ainda cerca de dois terços do total produzido em Portugal, situação contrária nos países europeus mais desenvolvidos.
Consideramos que a implicação primária desta situação, sobre a concorrência, é de que existe uma situação de forte desequilíbrio, onde as argamassas fabris são largamente prejudicadas, com prejuízo para as empresas produtoras, para a economia em geral e para o meio ambiente. A economia é também afectada negativamente, porque ao invés das argamassas fabris, as argamassas de estaleiro não contribuem com os investimentos e requisitos das primeiras, para além de contribuírem negativamente para a sustentabilidade ambiental do país.
Em que é que consiste este Guia produzido em conjunto com o LNEC?
A especificação técnica é produzida pelo LNEC. A participação da APFAC teve como objectivo garantir que nesse documento estivessem reflectidas regras para a produção de argamassas em obra, nomeadamente, a aplicação de sistemas de controlo, tais como os que vigoram para as argamassas de produção industrial, que decorrem do Regulamento Europeu dos Produtos de Construção. O guia enquadra a produção de argamassas em obra, especificamente “Argamassas para rebocos exteriores de paredes de alvenaria” e deverá ser utilizado e compreendido como um guia das boas práticas, a ser respeitado e cumprido como se uma norma se tratasse.
Qual o maior entrave à adopção das boas práticas que o Guia produz?
A pouca importância dada à qualidade de certas argamassas de utilização mais básica em obra que, apesar de tudo, representam um enorme volume, são más práticas que ainda se observam tanto em fase de projecto como no decorrer da obra. O controlo de produção das argamassas em estaleiro é nulo ou muito diminuto, existindo pouca consciencialização de algumas práticas na produção e aplicação de alguns produtos e dos resultados perversos que daí podem advir. Por outro lado, coexistem excelentes exemplos de evolução de produtos criados e desenvolvidos em ambiente fabril, com maus exemplos de aplicação em obra. A qualidade final de um projecto/obra é colocada em causa, por lacunas em algumas etapas de preparação e aplicação das argamassas.
Concorrência prejudicial à Indústria
A falta de formação e ou informação não será um obstáculo tão ou mais importante que a falta de legislação?
A formação será sempre um factor crucial. As empresas do sector das argamassas industriais investem muito em formação das várias equipas que trabalham em projecto e obra, especificamente nos produtos e sistemas que desenvolvem. Em larga escala, substituem as escolas. Estas empresas entendem essa necessidade com resiliência e reservam parte do seu orçamento para que as boas práticas na aplicação dos seus sistemas prevaleçam, dado que, em geral, estas formações são ministradas gratuitamente. É precisamente neste enquadramento que não lhes parece lógico e racional que, em obra, se estejam a produzir produtos concorrentes aos seus, sem o controlo e rigor necessário. Para além de falta de formação técnica, há também um problema de consciencialização das várias entidades intervenientes num projecto/obra para a necessidade de incrementar qualidade nesta área específica. Dada a estagnação constatada, a criação de legislação pode auxiliar e enquadrar os vários agentes, não constituindo em si um fim, mas um meio para o alcançar. A formação deverá sempre ser mantida no tempo e melhorada, devendo entender-se como uma alavanca para a melhoria continua do sector.
De que forma o contexto actual, onde se observa o aumento dos preços das matérias-primas, incluindo o Cimento, afecta esta situação?
Os aumentos contínuos e significativos das matérias-primas, afecta as argamassas fabris e as argamassas de estaleiro. No final, o produto final sairá mais caro, seja produzido numa obra ou numa fábrica. A APFAC sente maior preocupação com a falta de controlo de produção das argamassas em ambiente de obra. Face à actual elevada rotação nas equipas de trabalho e à falta de mão-de-obra qualificada, os problemas causados pela produção de argamassas em obra agudiza-se. Este factor é preocupante e afecta seriamente a qualidade final da obra.